Quando eu era pequena e estava começando a me entender como gente e a pensar no que eu pretendia ser quando crescesse, minha imaginação era muito fértil, principalmente quando se é jovem e não tem preocupação de nada por viver no conforto e tranquilidade da casa dos pais, com casa, comida, roupa lavada, mesada e diversão.
Assim que comecei a pensar em ser alguma coisa na vida eu pensei logo alto, na intenção de ser uma pessoa com um super futuro e ainda agradar meus pais com a minha escolha super bem sucedida de profissão.
Quando se é jovem com a cabeça fresquinha para novos conhecimentos e se tem uma estrutura adequada para desenvolver as habilidades educacionais é tudo de bom. Até antes do meu primeiro vestibular a coisa era bem tranquila, tirando a parte de que meus pais se divorciaram, eu mudei de casa, de colégio e também mudei muita coisa na minha rotina, antes era tudo mais fácil, eu só precisava assistir as aulas e estudar em casa, e eu achava que isso era tudo para um futuro brilhante. Eu queria demais fazer Medicina, ou Direito, ou Odontologia, ou Arquitetura, ou Fisioterapia.. ou mais alguma coisa que fosse lindo e com um super status naquela época. Tentei e não consegui, e as coisas foram ficando mais difíceis, com o tempo e com a conclusão do ensino médio, ainda continuei tentando mas eu tinha a sensação que o conhecimento estava escorrendo pelas minhas mãos e tudo estava ficando cada vez mais difícil, eu tinha que começar a trabalhar, não teria mais aquele tempo extra depois da escola, as provas estavam ficando mais difíceis pra mim e acabei fazendo uma Faculdade particular que eu abomino desde a primeira vez que ouvi o nome dela, fui na esperança de transferir de curso e fui levando com a barriga até a que acabei concluindo e acabei não transferindo também, e não foi por falta de vontade ou tentativa, foi apenas por dois motivos: primeiro porque não apareceu vaga para transferência e segundo porque eu não queria desistir no meio e ter que começar tudo de novo com uma grande chance de eu falhar. E o que aconteceu? Me formei frustradamente em um curso que eu odeio e as únicas coisas que eu consigo tirar de bom foram os laços de amizades que eu criei.
Ainda na esperança de ser alguém na vida, entrei para uma especialização que eu achei que fosse ter algum sentido na minha vida, mas parei para pensar e vi que estava cavando apenas mais fundo o buraco que comecei a cavar quando tomei a decisão errada de fazer algo que eu não gostava. Lembrei dos sonhos e desejos profissionais que eu tinha quando era jovem e vi que eu estava indo por outro caminho. Um caminho que eu não gostava, que eu não me orgulhava que que não era absolutamente nada parecido com aquilo que eu sonhava ser quando crescesse.
Até um tempo desses eu estava em uma área que eu gosto muito, totalmente diferente daquilo que eu pensei um dia me tornar e eu ate me adaptei e comecei a gostar e tinha esquecido a frustação que eu tinha sentindo quando me dei conta de que nada que eu havia imaginado tinha acontecido. No momento em que me encontrava totalmente feliz e criando outros sonhos profissionais diante daquela posição em que eu me encontrava, a casa caiu e eu tive que voltar para estaca zero, foi aí que veio toda aquela lembrança de quando eu era adolescente e tomei a decisão errada. Fiquei pensando no teria acontecido se tudo tivesse dado certo conforme o planejado e eu não tivesse que ter tomado um rumo diferente na minha vida. Não é nada legal passar praticamente um ano inteiro ou dois se lamentando por uma coisa que você não tinha controle e tentando saber o que diabos que você iria fazer da vida se tudo que você pretendia fazer foi simplesmente arrancado de você. Hoje eu continuo trabalhando na mesma área mas não tenho mais amor pelo o que eu faço como eu tinha antes, sou apenas mais um robô da sociedade capitalista que precisa trabalhar para pagar as contas e que não pode se dar ao luxo de jogar tudo pra cima ou tomar mais uma decisão incerta e sem perspectiva. Não tenho base nenhuma para correr esse isso.
Com tudo isso, acabei tendo a certeza de que, mais uma vez, eu preciso parar, pensar e sonhar sobre o que eu quero ser quando eu crescer e tentar começar tudo de novo.
Antes tarde do que mais tarde.
